Velejadores brasileiros presos injustamente

Nesta última segunda-feira (30/09), veio à tona o caso de dois velejadores brasileiros presos injustamente em Cabo Verde.

O caso aconteceu de fato em 2017, porém, repercutiu somente essa semana, quando localizaram o suspeito de ser mandante do crime.

Contratados para levar um barco até a Europa, os brasileiros velejadores ficaram detidos em Cabo Verde. A polícia do arquipélago, encontrou cerca de uma tonelada de cocaína escondida na embarcação que eles conduziam.

A rede britânica BBC revelou a investigação que envolve George Saul. Conhecido como ‘Fox’, ele é um empresário inglês e seria o dono do barco onde as drogas estavam.

Fox contratou os brasileiros Daniel Guerra e Rodrigo Dantas para conduzir o barco do Brasil à Europa. O inglês, descrito como uma pessoa “sorridente e simpática”, até era denominado como alguém “acima de qualquer suspeita”.

Entretanto, o serviço não ocorreu exatamente como eles imaginavam, pois a Justiça de Cabo Verde prendeu e condenou os brasileiros, sendo que o suspeito inglês continuou livre.

Como tudo começou

Por meio de um anúncio de emprego publicado na internet, Daniel e Rodrigo conheceram Fox. O anúncio dizia que o proprietário de um iate britânico buscava por ajudantes de convés, com a tarefa de levar seu barco do Brasil até a Europa.

Segundo a anúncio, não receberiam salário, mas todas as despesas seriam pagas. Ambos os brasileiros tinham o sonho de se tornarem capitães. Logo, acharam a proposta vantajosa, pois lhes traria experiência.

Em contato com a agência recrutadora de velejadores, eles conheceram Fox. O inglês justificou que o barco “Rich Harvest” estava no Brasil para fazer reformas.

Além deles, outro brasileiro e um capitão francês também estavam na lista de contratação para a tarefa.

O barco partiu do Brasil no dia 4 de agosto de 2017, porém, antes de zarpar, passou por uma inspeção de rotina da polícia brasileira no porto de Natal-RN. Os policiais passaram aproximadamente seis horas revistando, com a ajuda de um cão farejador, inclusive. A inspeção pareceu apenas um procedimento padrão para os brasileiros, assim como ocorre em aeroportos, e não encontraram nada, a propósito.

Fox não estava junto, pois retornou para a Europa, de avião, dois dias antes.

Encontro das drogas

Quando a embarcação chegou ao arquipélago de Cabo Verde, próximo da costa africana, estava com problemas no motor e precisou parar para fazer os reparos.

Os policias de Cabo Verde fizeram uma inspeção minuciosa, utilizando equipamentos especiais para cortar o interior do barco. Os brasileiros acreditaram que se tratava de mais uma busca rotineira, já que a embarcação saiu do Brasil inspecionada e sem qualquer problema.

A polícia encontrou as drogas escondidas em fundos falsos e informou que apreendeu cerca de 1,2 toneladas de cocaína, avaliada em mais de 600 milhões de reais, com base no mercado ilegal europeu.

Daniel relatou que parte das drogas estavam escondidas em um fundo falso que ficava em seu quarto, embaixo da cama que usava.

Condenação

Presos e acusados de tráfico internacional de drogas, Daniel e Rodrigo sofreram injustiça por estarem a bordo da embarcação. A Justiça de Cabo Verde os julgou e condenou a 10 anos de prisão em março de 2018.

Os velejadores argumentaram, durante o julgamento, que eram inocentes e não tinham ciência da existência da droga, além de afirmar que não conheciam o dono do barco, até o recrutamento para a vaga de emprego.

Felizmente, conseguiram a anulação das condenações em 2019 e eles puderam retornar ao Brasil. Ano passado, a Justiça entendeu que os brasileiros, de fato, não participaram do crime e o processo foi arquivado.

Fox foi preso na Itália, em agosto de 2018. A autoridades brasileiras, que investigavam o caso, chegaram a pedir a extradição do suspeito para o Brasil. Porém, ele conseguiu a liberdade.

Situação atual

Fox, hoje, tem 41 anos, mora no leste da Inglaterra, é empresário e dono de uma imobiliária. A BBC o localizou e abordou, entretanto, ele diz que não é traficante de drogas e que não comenta o caso.

Depois de todo o ocorrido, os dois brasileiros abandonaram o sonho de serem capitães de barcos. Rodrigo afirmou que enfrentou dificuldades para encontrar novos trabalhos como velejador. Já Daniel, diz que suas ambições de dar a volta ao mundo em um veleiro “ficaram trancadas em Cabo Verde”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima