Pesquisa mostra que dias muito quentes, seca e incêndios estão triplicando nas regiões da Amazônia e Pantanal. Devido às mudanças climáticas, a quantidade de momentos com essas condições simultâneas está crescendo significativamente em diversas regiões da América Latina, principalmente no norte da Amazônia e no Pantanal.
A revista científica “Nature Climate Change” publicou nesta quarta-feira (25/09), um novo estudo revelando que a América do Sul está ficando mais quente, seca e inflamável. Este aumento progressivo tem explicação clara nas mudanças climáticas. Esse processo, segundo a pesquisa, está intensificando os períodos de seca e aumento da temperatura. Deixando as condições mais propensas à incêndios florestais em várias regiões do continente sul-americano.
Dados alarmantes
O estudo mostra dados analisados pelos pesquisadores até 2022, referentes à temperatura, precipitação e ocorrência de incêndios dos últimos 40 anos no continente. Isso evidenciou que tais eventos se tornaram mais severos e frequentes, principalmente, no norte da Amazônia, na região do Gran Chaco (que abrange o Pantanal) e na região do Lago Maracaibo (Venezuela).
Nos locais citados anteriormente, entre 1971 e 2000, períodos em condições secas, quentes e inflamáveis, geralmente, ocorriam por menos de 20 dias ao ano. Entretanto, nas últimas décadas, tais condições ocorreram em cerca de 70 dias por ano. Isso representa mais do triplo de dias do registrado nas décadas anteriores.
Segundo Raul Cordero, autor do estudo e professor da Universidade de Groningen, da Holanda: “A mudança climática faz com que os eventos extremos aumentem em frequência, e esse aumento extraordinário no risco de incêndios na América do Sul é mais um exemplo disso”.
Dias quentes
Quando comparados os períodos entre os anos de 1971-2000 e 2001-2022, é possível verificar que, somente o número de dias quentes, aumentou cerca de 60 dias por ano na região da Amazônia e da Bacia de Maracaibo, assim mostra o estudo.
Embora o aumento de dias quentes não tenha sido significativo no Pantanal, os pesquisadores descobriram que a região apresentou um dos maiores aumentos no número de dias secos por ano em relação à toda a América do Sul. Ainda, durante o mesmo período, as precipitações anuais na região diminuíram cerca de 100 milímetros. Assim como em Maracaibo, que diminuiu 200 milímetros.
Contudo, os pesquisadores ressaltaram que a quantidade de chuva ainda é considerada alta, nessas áreas, sendo mais de 1000 mm por ano. Apesar de, paralelamente, ter sido observado que os períodos secos cresceram em mais de 50 dias por ano, nas duas regiões. As mudanças climáticas justamente deram um impulso nesse processo.
Recorde de seca
O ano de 2024 está marcado para o Brasil, com a maior seca da história do país. Aproximadamente, um terço do território brasileiro se encontra em situação de seca intensa.
Somente no mês junho, as alterações climáticas fizeram subir cerca de 40% o número de incêndios florestais no Pantanal. Além disso, entre março de 2023 e fevereiro de 2024, elevaram em até 20 vezes a chance de condições meteorológicas que favorecem a intensificação de incêndios na Amazônia Ocidental.
Amazonas
Somente no estado do Amazonas, todos os 62 municípios estão, desde agosto, em emergência ambiental por causa da estiagem severa e aumento de focos de incêndio. A Defesa Civil estadual informou que 330 mil pessoas sofrem com os impactos da seca, além de isolar comunidades no interior do estado.
O Rio Negro, que é afluente do Rio Amazonas, está a menos de dois metros da seca histórica que ocorreu em 2023 na capital, Manaus.
O autor do estudo, Raul Cordero, ainda conclui: “Infelizmente, a situação continuará piorando até que detenhamos o aquecimento global. Algo que, no melhor dos casos, só acontecerá depois de algumas décadas. Temos pela frente um clima cada vez mais hostil, não só na América do Sul, mas no mundo todo”.